Cuiabá, 06 de Maio de 2024

CIDADES Quinta-feira, 15 de Abril de 2021, 16:05 - A | A

15 de Abril de 2021, 16h:05 - A | A

CIDADES / PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

Alunos de medicina da Unemat sofrem ataques: ‘só boliviano, tráfico e parede de reboco’

Keka Werneck
Única News



Estudantes de medicina, em um grupo de Whatsapp denominado “Unimontes-medicina”, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Minas Gerais, emitiram uma série de comentários discriminatórios e preconceituosos sobre o curso de Medicina da Universidade de Mato Grosso (Unemat), em Cáceres (a 214 km de Cuiabá), e seus alunos, que foram comparados de forma pejorativa e vexatória a bolivianos, ciganos e traficantes de cocaína. Além disso, ironizam que as aulas se dão “em meio a jacarés”, no calor “de 52 graus”, em salas com paredes de reboco e biblioteca que só tem 25 livros.

Em determinado momento da conversa, é enviada foto dos alunos da Medicina da Unemat, na ocasião em que fizeram greve por melhores condições. Nisso, outro integrante do grupo comenta: “Olhando por cima já achei uns 30 bolivianos, com descendência de cigano”.

Em outro comentário irônico, fala-se em risco de ser sequestrado para trabalhar nas plantações de cocaína da Bolívia, 16h por dia, na condição de escravo. “É sair de casa para estudar e acordar morto (...), a Unemat é assim”.

Sem provas, um aluno diz que no local não tem cadáver para aulas de anatomia, porque reitoria troca por drogas.

Apesar de um alerta que também foi emitido no grupo, de que as mensagens tinham tom preconceituoso e bizarro, elas não cessaram.

O grupo fala ainda que é fácil pegar dengue assistindo aula e a cidade de Cáceres é horrível, cheia de jacarés e “muriçocas de 2 metros”.

A conversa chateou os estudantes da Unemat, que se manifestaram através de notas públicas. O Diretório Central dos Estudantes Livres Jane Vanini disse repudiar as “manifestações xenófobas e covardes perpetradas contra a população cacerense, nosso país vizinho (Bolívia), a Universidade do Estado de Mato Grosso e aos acadêmicos do curso de Medicina”.

A nota explica que, com a abertura do Sistema de Seleção Unificada (SISU), no dia 6 de abril de 2021, inúmeros grupos de Facebook e Whatsapp foram criados por acadêmicos dos cursos de Medicina nas universidades públicas em todo o Brasil, para “troca de ideias sobre notas parciais, classificação, além disso, os participantes poderiam se informar mais sobre as universidades e as respectivas cidades com os veteranos presentes nos grupos”.

Mas, de acordo com DCE da Unemat, ao invés de integrar, esse tipo de postura preconceituosa só demonstra a grande intolerância que reina no país. “É necessário cobrar uma apuração rápida e efetiva, para que haja punição dos culpados”, cobra.

O Centro Acadêmico Livre de Medicina (CALM) também emitiu nota, considerando a situação “triste” e expressando repúdio. “São inverdades e ofensas”.

Também ressalta que, de acordo com a Lei Nº 9.459, em seu artigo primeiro, “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. É ilegal praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”, diz a lei. A pena de reclusão é de um a três anos e multa.

Outro lado

Ao tomar conhecimento da situação, a Unimontes emitiu nota pública repudiando "manifestações de natureza ofensiva, preconceituosa e ilegais" e afirmando que não compactua com isso. Também informou que vai levar o caso à polícia.

 

FAÇA PARTE DE NOSSO GRUPO NO WHATSAPP E RECEBA DIARIAMENTE NOSSAS NOTÍCIAS!

GRUPO 1  -  GRUPO 2  -  GRUPO 3

Álbum de fotos

Comente esta notícia