25 de Abril de 2025
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CIDADES Domingo, 20 de Abril de 2025, 15:40 - A | A

20 de Abril de 2025, 15h:40 - A | A

CIDADES / ESPECIAL REVISTA ÚNICA

Comer ficou mais caro: famílias sentem o impacto da alta nos alimentos

Entre os alimentos que apresentam aumentos mais elevados nas gôndolas dos supermercados estão o café e o ovo.

Aline Almeida
Revista Única



O aumento constante nos preços dos alimentos tem sido uma preocupação para consumidores e economistas brasileiros. Os carrinhos de compras saem cada vez mais vazios dos supermercados e as famílias lidam com uma realidade: comer está mais caro a cada dia. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicou que os preços dos alimentos saltaram 162% entre 2012 e 2024, e a tendência é que continuem em alta nos próximos anos. Segundo o levantamento, o Brasil e o mundo enfrentam um aumento expressivo nos preços dos alimentos, que não é passageiro e está profundamente ligado às mudanças climáticas e aos ajustes no mercado agrícola.

Nos últimos tempos, é praticamente impossível fazer compras no mercado sem notar que os preços estão cada vez mais altos. Ingredientes que normalmente faziam parte da rotina das mesas brasileiras, como arroz, feijão e café, têm visto suas cifras aumentarem de forma alarmante. Não é apenas uma percepção; dados apontam que muitos brasileiros estão sentindo a pressão financeira, com reajustes impactando diretamente a composição da cesta básica. Embora a previsão de curto prazo indique uma leve queda na inflação, os preços dos alimentos podem continuar variando devido a fatores como clima e políticas comerciais.

Economista Edisantos Amorim destaca que 2025 já iniciou com o preço dos alimentos acelerados, de janeiro até março o comportamento dos alimentos tem sido de alta e ainda há uma tendência de novas altas no decorrer do ano. "Mas isso é devido a uma combinação de fatores como, por exemplo, a questão da alta do dólar, a questão da inflação, a questão dos fatores climáticos, temperes, a questão também da oferta e da procura, são combinações que têm trazido esse efeito negativo, o que contribui para essa disparada nos preços dos alimentos. O dólar, por sua vez, pressiona os preços dos alimentos, pois os preços desses produtos são contados em moeda norte-americana. A inflação, ela tem uma combinação dos altos preços dos alimentos, que é resultado de uma série de aumentos acumulados desde o ano de 2020, ou seja, desde a pandemia. No país vem crescendo a questão inflacionária, o que está refletindo diretamente na variação de preços", disse o economista.

Edisantos enfatiza que o Brasil não tem ainda uma tributação justa. A falta de uma política eficiente de desoneração para a cadeia alimentar, principalmente para os alimentos essenciais, afeta diretamente a população mais pobre. Além dos fatores externos, como por exemplo os eventos climáticos, como enchentes, secas severas, incêndios florestais, que prejudicam diretamente a lavoura, reduzem as safras e com isso encarece os alimentos. Oferta e procura são outro fator. Se a oferta reduz, o preço acaba tendo aumento.

"Os alimentos são uma classe de produtos que podem ser chamados de ‘relativamente inelásticos’, isto é, por mais que os preços subam, sempre haverá demanda, porque as pessoas precisam se alimentar. O máximo que pode ocorrer é a substituição, quando existe possibilidade", afirma Kaike Rachid Maia.

"Outro fator também importante é que toda vez que a gente tem esses impactos na alta dos preços, principalmente dos alimentos, a população mais pobre é a que mais sente. Porque, vamos analisar aqui: você tem inflação alta, preços que estão crescendo e o salário não tem esse mesmo poder. Então, o trabalhador sente que o salário é corroído diante de uma inflação alta. E aí, o Real perde o valor e, automaticamente, com o mesmo valor mensal que um trabalhador destinava para fazer a cesta básica, ele já não consegue mais", reforça Edisantos.

O economista confirma que esses fatores ainda vão culminar durante alguns meses do ano. "Os indicadores são para alta da inflação o ano todo e os outros indicadores também acabam sendo afetados, porque, se você tem uma inflação alta, você prejudica diretamente também uma outra variável importante, que é a taxa de juros no mercado, que é a Selic, onde a inflação acaba servindo de âncora para que a Selic possa ter também uma trégua e começar a ter uma redução, mas isso dificilmente vai acontecer no ano de 2025", diz.

Cesta básica apresentou redução, mas ainda não é suficiente

Levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa e Análise da Fecomércio Mato Grosso (IPF-MT) mostrou na segunda semana de março que o preço da cesta básica em Cuiabá apresentou um valor médio de R$ 805,11. Presidente da Fecomércio-MT, José Wenceslau de Souza Júnior, afirmou que a retração não foi o suficiente para deixar o preço do mantimento abaixo dos R$ 800,00, além de estar na contramão do verificado também na segunda semana de março de 2022, quando atingiu o seu menor valor na série histórica apurado pelo Instituto de Pesquisa da Fecomércio-MT.

“O custo elevado da cesta em Cuiabá segue maior no comparativo anual, em 2,73%, e, há dois anos, também na segunda semana de março, o mantimento atingia seu menor valor apurado pelo IPF-MT na série histórica, de R$ 690,80. As novas medidas do governo que prometem frear o alto custo dos alimentos, infelizmente, não devem surtir o efeito necessário, o que continua a afetar as famílias de menor renda, que destinam grande parte de seu orçamento a itens básicos como alimentação”, disse Wenceslau Júnior.

O tomate segue apresentando alta pela terceira semana em sequência, dessa vez com um leve aumento de 3,23% sobre a primeira semana do mês, registrando um valor média de R$ 7,25/kg. Segundo análise do IPF-MT, a antecipação da colheita da safra de verão, em razão da maturação prematura, prejudicou a oferta do produto, se tornando escassa em algumas regiões, o que pode ter elevado o preço em alguns mercados locais. A batata apresenta redução em seu valor, de 3,92%, chegando a R$ 4,09/kg em média. As altas temperaturas registradas estão intensificando a colheita dos tubérculos, aumentando sua oferta, o que pode ter resultado na redução de seu preço. A carne bovina também apresentou redução de 2,64%, registrando o maior recuo de 2025 até o momento, chegando a custar em média R$ 42,30/kg. O aumento da disponibilidade interna de carne bovina pode estar associado a esta redução. Porém, esse valor se encontra 21,65% mais alto se comparado aos registrados no mesmo período do ano passado.

Ovos e café entre os mais caros

Entre os alimentos que apresentam aumentos mais elevados nas gôndolas dos supermercados estão o café e o ovo. Os itens, que fazem parte da rotina diária da maioria dos brasileiros, sofrem uma sucessão de reajustes. O economista Kaike Rachid Maia diz que o aumento no preço dos ovos e do café se deve a uma combinação de fatores sazonais (temporários) e climáticos. Kaike explica que, para os ovos, reuniram-se em mesmo período, uma onda de gripe aviária nos Estados Unidos, maior consumidor mundial, que teve que sacrificar mais de 23 milhões de aves, com consequente quebra na oferta. Isso fez aquele país aumentar suas importações, levando produtores de outros mercados, como o Brasil, a direcionar sua produção à exportação, promovendo desabastecimento interno e aumento nos preços. De outra frente, o clima também não ajudou. As ondas de calor registradas nas regiões produtoras nos primeiros meses de 2025 também favoreceram diminuição da oferta, pois com temperaturas mais altas, as galinhas tendem a se alimentar menos e assim produzir menos ovos.

"Insumos como fertilizantes, combustíveis e energia elétrica encareceram nos últimos anos, elevando o custo da produção agrícola e pecuária. Além disso, eventos climáticos extremos, como secas e chuvas intensas, afetam a oferta de alimentos, reduzindo a produção e pressionando os preços", disse Adriano Antônio Siqueira.

"As altas nos preços do milho e da soja entre dezembro de fevereiro, que são base na fabricação de rações para aves, também fizeram elevar os custos de produção. Por fim, com os sucessivos aumentos no preço das carnes, ocorrido durante todo ano de 2024, principalmente a bovina, os consumidores tenderam a buscar fontes alternativas de proteína como os ovos, o que, por efeito de oferta e demanda, fez com que seus preços se elevassem", disse.

Com o café não foi diferente, avaliou o economista. Kaike lembra que o preço da saca vem aumentando desde o início de 2024. A planta é exigente com temperatura e climas mais quentes diminuem a produtividade dos cafezais. Foi o que ocorreu no Brasil e Vietnã, principais produtores mundiais, onde as temperaturas vêm atingindo picos comprometedores para o cultivo. Assim, com menor oferta, o preço do café que tem cotação internacional aumenta, assim como a demanda por importação. "Os produtores brasileiros acabam preferindo direcionar sua produção para o mercado externo, aproveitando não só preços maiores, mas também o diferencial de câmbio, já que o Real sofreu desvalorização frente ao dólar nos primeiros meses deste ano. Com boa parte da produção brasileira sendo exportada, falta café no mercado interno, incorrendo no corolário: menor oferta, preços maiores", ponderou.

Kaike frisa que os alimentos são uma classe de produtos que podem ser chamados de “relativamente inelásticos”, isto é, por mais que os preços subam, sempre haverá demanda, porque as pessoas precisam se alimentar. "O máximo que pode ocorrer é a substituição quando existe possibilidade. Veja que não é fácil, pois quando o preço da carne sobe, por exemplo, as pessoas procuram os ovos, que acabam sofrendo alta, justamente pelo aumento da procura. E o que pode substituir os ovos numa cesta de alimentos? Quase nada. O mesmo ocorre com o cafezinho de todo dia. Ou as pessoas o substituem por chá ou buscam por um café menos caro, normalmente de pior qualidade. Dessa forma, a recomendação é que os consumidores se organizem, façam uma planilha de orçamento doméstico, para que tenham uma fotografia de seus gastos e busquem identificar supérfluos, para eliminá-los ou diminui-los, até que os preços se acomodem ou obtenham, de alguma forma, aumento de renda", orientou Kaike Rachid Maia.

O economista afirma que a alta dos alimentos tem efeito bastante capilarizado na Economia. Um setor atingido é o de hotéis, bares e restaurantes. Estes não conseguem repassar totalmente a elevação dos insumos alimentícios a seus cardápios, tendo que absorver aumentos e consequentemente diminuindo margens. Os trabalhadores formais beneficiados com o “vale alimentação” ou “vale refeição” também são prejudicados, pois à medida que os aumentos ocorrem, seus tickets perdem poder de compra até que sejam reajustados, normalmente só uma vez por ano. Também os supermercados, principalmente os que atendem as classes de renda “C” e abaixo, sofrem diminuição em seus faturamentos. Os clientes acabam substituindo-os pelas redes de “Atacarejo”.

Medidas para reduzir impactos

Adriano Antônio Siqueira, gerente de Contabilidade, Doutor em Ciências Contábeis e Administração, Mestre em Ciências Contábeis, Professor de Pós-graduação e do curso de Ciências Contábeis da Unic Beira Rio, reforça que o aumento no preço dos alimentos é resultado de uma combinação de fatores, como a alta nos custos de produção, impactos climáticos, variações cambiais e questões logísticas. "Insumos como fertilizantes, combustíveis e energia elétrica encareceram nos últimos anos, elevando o custo da produção agrícola e pecuária. Além disso, eventos climáticos extremos, como secas e chuvas intensas, afetam a oferta de alimentos, reduzindo a produção e pressionando os preços", disse.

"A população mais pobre é a que mais sente. Se você tem inflação alta, preços estão crescendo e o salário não tem esse mesmo poder, então, o trabalhador sente que o salário é corroído diante de uma inflação alta. E aí, o Real perde o valor e, automaticamente, com o mesmo valor mensal que um trabalhador destinava para fazer uma cesta básica, ele não consegue mais", frisa Edisantos Amorim.

No caso do café, destaca o contador, fatores climáticos tiveram grande influência, principalmente geadas e secas severas que prejudicaram a produção nos últimos anos. A menor oferta impactou os preços, que subiram para compensar a escassez. Além disso, o aumento da demanda global por café também influenciou o mercado. Já os ovos tiveram uma alta significativa devido ao aumento nos custos de produção, especialmente a ração utilizada para alimentar as aves, que depende do milho e da soja – commodities que também tiveram oscilações de preço no mercado internacional. Além disso, surtos de gripe aviária em algumas regiões afetaram a produção e contribuíram para a escassez do produto.

O professor assevera que algumas medidas podem ser adotadas para reduzir os impactos da alta dos alimentos, entre elas o planejamento e pesquisa de preços. Comparar valores entre supermercados, feiras e atacadistas pode gerar uma economia significativa. Outra medida é a substituição de produtos, optar por alimentos que estejam com preços mais acessíveis naquele período, como trocar proteínas mais caras por alternativas mais em conta. Compras em grupos ou atacados também são uma alternativa. Adriano afirma que, quando possível, comprar em maior quantidade pode gerar descontos. É importante ainda evitar desperdícios, aproveitar integralmente os alimentos, congelar itens perecíveis e planejar melhor as refeições evitando gastos desnecessários.

"O aumento dos preços dos alimentos afeta diversos setores, especialmente a indústria alimentícia, o comércio e o setor de serviços. Restaurantes, padarias, hotéis e empresas que dependem de insumos alimentares enfrentam dificuldades para manter seus preços sem impactar a margem de lucro. Pequenos empreendedores do ramo alimentício podem ter dificuldades para absorver os custos e acabam repassando os aumentos para os consumidores. Além disso, a alta nos preços dos alimentos reduz o poder de compra das famílias, afetando o consumo em outros setores, como vestuário, lazer e eletrodomésticos", comenta o contador.

Adriano pondera que há fatores que podem contribuir para uma desaceleração da inflação dos alimentos no médio prazo. "O controle da taxa de juros, a melhora no cenário climático e a estabilização dos preços dos insumos agrícolas podem ajudar a reduzir os custos de produção. Além disso, medidas governamentais voltadas para incentivar a produção e melhorar a logística de distribuição podem contribuir para um alívio nos preços. Contudo, o comportamento dos mercados internacionais e a demanda global por commodities ainda serão fatores determinantes nos próximos meses", completou.

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