Cuiabá, 06 de Maio de 2024

SAÚDE E BEM ESTAR Domingo, 16 de Maio de 2021, 10:26 - A | A

16 de Maio de 2021, 10h:26 - A | A

SAÚDE E BEM ESTAR / PANDEMIA E MATERNIDADE

Ser mãe durante a pandemia: medo pode adiar projetos de casais  

Um ano após surgimento da covid-19, incertezas dos riscos da gravidez ainda rondam famílias

Aline Almeida  



gravidez

 

Os riscos da maternidade em tempos de pandemia têm adiado planos de muitos casais. Aqueles que levam o sonho em frente, não escondem o medo diante de uma doença que ainda traz muita incerteza. O medo aumenta principalmente pelo fato de que casos de coronavírus e mortes de gestantes têm aumentado. Em Mato Grosso, até a primeira quinzena de abril, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) confirmou registros de 1.890 gestantes com Covid-19 e 33 óbitos ocorridos em razão da doença. Mãe de primeira viagem, Mayara Rocha Mesquita, 29 anos, está aproximando do sexto mês de gestação. Grávida de uma menininha (Manuela), Mayara diz que, sem dúvida, a gravidez traz incertezas. “Se pudesse ter escolhido o momento para gerar essa pequena vida em meu ventre, não seria agora, principalmente por conta da pandemia que estamos enfrentando. Porém, Deus nos mandou esse presente e ficamos muito felizes. Com toda certeza apreensivos, mas tementes a Deus e com muita fé, estamos passando da melhor forma”. Por conta da gestação, os cuidados foram ainda mais redobrados. Mayara e o marido trabalham em estabelecimentos considerados essenciais. Ela, Médica Veterinária, especialista em Patologia Clínica Veterinária, trabalha em um laboratório particular da cidade. “Não pude parar e me afastar. Nossos animais, sejam pequenos, grandes ou silvestres, precisam de nós, médicos veterinários e do diagnóstico clínico para auxiliar os tratamentos”. No local de trabalho, Mayara diz que foram tomadas medidas desde o início da pandemia para minimizar possíveis contaminações.

Por lidar diretamente com os animais, nos momentos de coletas e tentando aumentar o distanciamento entre pessoas, foi instituído que o contato direto com os tutores ficou restrito apenas a pegar o animal e levar à sala de coleta, não permanecendo no local da mesma. “Além disso, eu particularmente sempre procurei utilizar de máscaras mais reforçadas ou até mesmo duas máscaras (sendo uma de tecido e outra tripla descartável), higiene das mãos com álcool ou lavagem bem realizada com sabão. Confesso que, antes de engravidar, eu tinha medo, me cuidava, mas sem dúvida tudo intensificou depois de saber dessa pequena em meu ventre. Os cuidados foram redobrados”, frisa. Mayara ressalta a preocupação das gestantes em estar no grupo de risco para o vírus e ainda das altas chances de aborto. “O medo, com toda certeza, me acompanha desde que descobri a gravidez. Mas, felizmente, até o momento estamos conseguindo seguir com saúde e livre desse terrível vírus, graças a Deus. Praticamos o distanciamento social, só temos saído de casa para nosso serviço, restringimos visitas”, complementa a gestante.

O medo fez com que a estudante Patrícia Amorim, 32 anos, adiasse o sonho de ser mãe. Casada há quatro anos, ela e o marido planejavam a gestação para o ano passado, mas com a pandemia, os sonhos foram interrompidos. Patrícia afirma que adiar é uma forma também de torna-lo possível. Isso porque, segundo ela, levar uma gestação em período de pandemia é colocar em risco a vida dela e do bebê. “Decidimos, eu e meu esposo, esperar um pouco mais. Tenho muito medo de ficar grávida neste cenário de incerteza que o coronavírus ainda traz”, diz. Mesmo que a ansiedade aumente, Patrícia afirma que a expectativa é de que a vacina esteja disponível para a rotina voltar ao normal e que famílias deixem de chorar a morte de seus entes queridos. “Tudo que queremos é nosso bebê, mas também queremos que a gestação seja segura. Nossa expectativa é grande e torcemos que em breve nosso sonho torne realidade”, comenta. Ginecologista e obstetra, Alessandra Barboza frisa que ainda há muita incerteza quando se fala em covid na gravidez. Segundo ela, estudos ainda estão começando neste sentido. “Estamos vivendo na prática clínica algumas complicações que vamos poder mostrar daqui alguns anos, através de estudos científicos”. A professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) pondera que o que se tem visto na gestante é a mesma gravidade do restante da população. As pacientes com comorbidades acabam tendo mais riscos. O que difere um pouco é quando a gestante evolui para a fase grave da doença. “Quando a gestante fica grave e tem que ser intubada, a gente sabe que, pelo tamanho do abdômen, alteração do metabolismo pela gravidez, alteração respiratória e cardiovascular, temos maior dificuldade ventilatória dessas pacientes. Mas as que estão de forma leve, se comportam como a população em geral”. No bebê, Alessandra Barboza diz que o quadro é de mais casos de aborto, de prematuros e óbitos fetais. “É uma infecção. Essa infecção gera ocitocinas inflamatórias que podem levar à contração prematura do útero”. A médica cita, ainda, o risco de pré-eclâmpsia e aumento de chances de trombose na gravidez, que podem levar ao quadro de embolia pulmonar na gestante e também fetal, com alteração na circulação placentária e até óbito. Um dos tratamentos na gravidez tem sido o uso de anticoagulantes. “O aumento do óbito deve-se também ao aumento de mortes na população jovem. Essa segunda onda. que a gente teve com nova cepa, com mutação, vimos mais jovens ficando graves. As gestantes entram também neste grupo de pessoas jovens, que na primeira onda de contaminação não vimos acontecer tanto”.

A obstetra salienta que a grávida precisa se cuidar, não deve ficar circulando e, se puder ficar em teletrabalho, melhor. “Mas elas precisam ir ao pré-natal. O pré-natal é onde conseguimos diagnosticar outras doenças que também causam óbito materno, que também causam óbito fetal. É através do pré-natal que a gente vai conseguir diagnosticar, tratar e evitar complicações”. A grávida que está com covid também precisa buscar tratamento para que a doença não evolua a ponto de não conseguir tratar, conforme destaca Alessandra. Os cuidados que as gestantes têm que ter são os mesmos. A dica é não aglomerar, lavagens das mãos e uso de máscaras. Enquanto isso, a profissional ressalta que a luta segue no sentido de incluir as grávidas no grupo de risco para imunização.

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“Quando a gestante fica grave e tem que ser intubada, a gente sabe que, pelo tamanho do abdômen, alteração do metabolismo pela gravidez, alteração respiratória e cardiovascular, temos maior dificuldade ventilatória dessas pacientes. Mas as que estão de forma leve, se comportam como a população em geral”, destaca a ginecologista e obstetra Alessandra Barboza.  

Média de 25 gestantes morreram por semana no Brasil este ano

O número de mortes de grávidas e puérperas – mães de recém-nascidos – por covid-19 mais que dobrou em 2021, em relação à média semanal de 2020. Além disso, o aumento de mortes neste grupo ficou muito acima do registrado na população em geral, segundo dados analisados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19). Uma média de 10,5 gestantes e puérperas morreram por semana em 2020, chegando a um total de 453 mortes no ano passado em 43 semanas epidemiológicas. Já em 2021, a média de óbitos por semana chegou, até 10 de abril, a 25,8 neste grupo, totalizando 362 óbitos neste ano durante 14 semanas epidemiológicas. Segundo o levantamento, houve um aumento de 145,4% na média semanal de 2021, quando comparado com a média de mortes semanal do ano passado. Enquanto isso, na população em geral, o aumento na taxa de morte semanal em 2021, na comparação com o ano anterior, foi de 61,6%. A professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e uma das criadoras do observatório, médica Rossana Francisco, avalia que o país precisa de políticas públicas direcionadas para a população de gestantes e puérperas para conseguir reduzir sua mortalidade. O OOBr Covid-19 usa dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) e, segundo a atualização mais recente, com números até 10 de abril deste ano, desde o início da pandemia foram confirmados 9.985 casos de covid-19, entre gestantes e puérperas, com 815 mortes. A médica, que também é presidente da Associação de Medicina e Obstetrícia do Estado de São Paulo (Sogesp), afirma que a morte materna no Brasil, em geral, é elevada e que há uma fragilidade no atendimento às gestantes e puérperas dentro do sistema de saúde no país.

Diante de elementos como a sobrecarga nesse sistema por conta da pandemia e o surgimento de variantes de covid-19 – que podem estar associadas a casos mais graves da doença –, há uma piora no atendimento a este grupo. “Quando olhamos a situação da gestante e da puérpera, já temos uma rede de saúde que não é muito organizada para atenção a casos graves para este público, tanto que [o Brasil] tem uma razão de morte materna de 55 [mortes por 100 mil nascidos vivos], deixando claro que realmente temos uma dificuldade na atenção para a saúde da mulher, especialmente gestante e puérpera”, disse a médica. A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que a razão de morte materna seja menor que 20.

Ações nacionais – O Ministério da Saúde destinou R$ 247 milhões aos estados e municípios para incentivar ações que assegurem o acesso de qualidade de gestantes e puérperas aos pontos da Rede de Atenção à Saúde no pré-natal. A portaria que libera os recursos traz uma série de recomendações para o atendimento e isolamento social de mulheres grávidas, além da destinação de verba específica para o pré-natal odontológico. O investimento contribuirá para fortalecer a identificação precoce, o monitoramento de gestantes e puérperas com síndrome gripal, síndrome respiratória aguda grave, com suspeita ou confirmação de covid-19.

A qualificação das ações em todos os pontos da rede de atenção à saúde, no contexto da pandemia de coronavírus, inclui o suporte ao distanciamento social daquelas que não possuam condições para realização de isolamento domiciliar e a qualificação das ações de atenção ao pré-natal odontológico realizadas na Atenção Primária à Saúde (APS). Gestantes, puérperas e lactantes podem se vacinar contra a Covid-19 no Brasil, desde que pertençam a um dos grupos prioritários, especialmente se tiverem alguma comorbidade. Essa é a orientação do Ministério da Saúde, que tem como base estudos nacionais e internacionais que avaliaram os riscos e os benefícios de imunizar mulheres nessas condições. No caso de gestantes sem doenças pré-existentes, mas que façam parte do público-alvo da campanha, a recomendação é que seja realizada uma avaliação cautelosa junto ao seu médico, principalmente se a mulher exercer alguma atividade que a deixe mais exposta à doença. A gestante também deve ser informada sobre os dados de eficácia e segurança conhecidos dos imunizantes. Quem se enquadrar nesses critérios, deve ser vacinado contra a covid-19 conforme a ordem de imunização dos grupos prioritários, estabelecida pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO).

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“Confesso que, antes de engravidar, eu tinha medo, me cuidava, mas sem dúvida tudo intensificou depois de saber dessa pequena em meu ventre. Os cuidados foram redobrados”, diz Mayara Mesquita.

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