Cuiabá, 26 de Abril de 2024

ARTIGOS/UNICANEWS Quarta-feira, 20 de Março de 2019, 08:40 - A | A

20 de Março de 2019, 08h:40 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / LUCY MACEDO

Desafios nas redes e massacre de Suzano nos desesperam



Muito para além de ser empresária, mas hoje como mãe e administradora de um portal de notícias, estou a me perguntar, exaustivamente, os motivos que levaram dois ex-alunos da Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP),  a abrirem fogo e ainda matarem a golpes de machadinha oito pessoas  entre estudantes e funcionários da escola, deixando 10 mortos, incluindo-os e ainda 11 feridos, alguns em estado grave.  

Mas o que vem causando desespero em centenas de pais de família, após a comoção do massacre de Suzano no último dia 13 de março, são os inúmeros desafios que como um passe de mágica se alastraram nas rede sociais. Em particular, em vários grupos de WhastApp e Telegram, motivando adolescentes de inúmeras cidades brasileiras a se colocarem dentro de cenas, em uma peça teatral com requintes de desatino e horror.  

Em Mato Grosso, por exemplo, grupos de estudantes tentaram recentemente reproduzir [ou criarem um rascunho pobre e infeliz] do ato bárbaro de Suzano, desvelando uma cultura de violência que tomou o país e que pode estar estimulando indiretamente nossos meninos e meninas. Ainda que não haja um estudo claro, pontual e assertivo que possa explicar as razões destas coisas estarem acontecendo, colocando nossos filhos como alvos fáceis destas loucuras.   Desde o boom da rede mundial de computadores no mundo, ainda no finalzinho do século passado [1996], globalizando a informação e tornando a rede social o lugar preferido de milhares de pessoas. Este também acabou sendo - perigosamente -, o ambiente preferido de milhões de jovens.  

Meninas e meninos mais conhecidos como nativos digitais passaram a codificar mensagens, dificultando o acesso dos pais ou responsáveis aos conteúdos acessados. Época que os jogos e videogames ganharam o caráter de grandes desafios e, pior, criptografado. Ou seja, os desafios só podiam ser acessados pelos usuários envolvidos na conversa, já que para descriptografá-las é necessário possuir uma chave particular, que somente eles possuem. Período que surgiram jogos de desafios que incentivavam o suicídio, como 'Baleia Azul'.

De lá para cá muitos desafios entraram na vida de centenas de menores, filhos de uma era inteiramente digital. Atualmente, após a tragédia ocorrida na escola de Suzano, em São Paulo, a onda agora é o 'Momo', outro jogo suicida que tem deixado vítimas.  Ele consiste basicamente em utilizar alguns aplicativos disponíveis no celular como o WhastApp ou Telegram, onde um personagem entra em contato com este jovens dando instruções macabras. Uma espécie de jogo que exige uma série de desafios para quem entra no jogo passe de fase.  

Há ainda outros piores na Deep Web, nome dado para uma zona da internet que não pode ser detectada facilmente pelas tradicionais ferramentas de busca, garantindo privacidade e anonimato para os seus navegantes. É formada por um conjunto de sites, fóruns e comunidades que costumam debater temas de caráter ilegal e imoral.   

Nestes grupos, os criminosos usam esta rede mundial de computadores, para cooptação E têm como alvo preferencial crianças e jovens, para práticas de crimes brutais.   

Em Mato Grosso, no último domingo (17), em Cáceres (225 km ao Oeste), 14 estudantes de grupo de 18 integrantes foram ouvidos pela Polícia Civil, após terem compartilhado mensagens em um grupo na rede social, mais especificamente no aplicativo Telegram, propondo um atentado na Escola Estadual União e Força.  

O criador do grupo, um garoto de 17 anos, após pressão acabou confessando a ação. E se disse estar arrependido e que não era a intenção promover ataque à escola. O grupo durou apenas 1 hora, mas rapidamente ganhou a adesão de outros grupos, de outras escolas.  

Também motivados pelo massacre de Suzano outros grupos vieram à tona em Cuiabá e Várzea Grande e estão sendo investigados pela polícia civil de Mato Grosso. E à exemplo destes grupos, outros têm viralizado nas escolas brasileiras. Abrindo às pressas um debate, agora mais ampliado, sobre a disseminação destas mensagens que surgem sob uma narrativa de fazer justiça com as próprias mãos. 

No caso, por exemplo de Várzea Grande, a polícia agiu rápido e achou a suspeita - uma jovem de 19 anos  - que foi presa nessa segunda-feira (18) acusada de ser a responsável pela incitação do suposto massacre em duas escolas estaduais de Várzea Grande. A moça 'tresloucada' teria enviado áudios pelo aplicativo WhatsApp, dizendo que comandaria massacre nas Escolas Estadual Jaime Veríssimo de Campos e Marlene Marques, ambas no bairro Jardim Imperial.  

Só para se ter uma ideia do ambiente perigoso que vive nossos filhos, a tragédia ocorrida na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP),  foi pautada em outra, na chacina ocorrida em Columbine, no Colorado (Estados Unidos), em 20 de abril de 1999.  A descoberta, obviamente, não reduz a perplexidade causada pela barbárie. Muito antes nos amedrontam.  

Estas ações, por enquanto isoladas, precisam colocar, entretanto, o Estado neste debate, já que há uma valorização da violência na nossa sociedade. Sobretudo, porque estamos vivendo tempos perigosos de intolerância e ressentimento, repassados a 'torto e a direito', pelas redes sociais.  

 

Lucy Macedo

Lucy Macedo é empresária, diretora do Site Única News e Revista Única

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