Cuiabá, 13 de Maio de 2024

POLÍTICA Quinta-feira, 08 de Março de 2018, 16:22 - A | A

08 de Março de 2018, 16h:22 - A | A

POLÍTICA / DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Deputada e doutora garantem que a mulher continua "longe do respeito e perto da morte"

Marisa Batalha



 

 

 

 

(Foto: Arte de Zeilton Mattos)

Zeilton-Eva.jpg

 

Com uma forma de dar um basta à violência, dezenas de mulheres fizeram nesta quinta-feira(08), no Dia Internacional da Mulher, um protesto na Praça Alencastro, na região central de Cuiabá, contra os altos números de agressões e assassinatos de que são historicamente vítimas. Uma situação que ganha ares de horror em Mato Grosso, que possui o maior índice de feminicídio no país. 

 

Outra manifestação ocorreu ainda de madrugada, quando algumas  manifestantes trancaram a garagem da Pantanal Transportes, no bairro Jardim Vitória, das 3h30 às 5h30, impedindo que os coletivos rodassem.

 

Já na Praça Ipirança, 38 entidades optaram em trocar faixas e palavras de efeito, por uma celebração ao Dia Internacional da Mulher. Na ação foram oferecidos diversos serviços, entre tratamentos estéticos, segunda via de documentos e orientação quando aos direitos das mulheres e combate a violência doméstica.

 

No interior, uma ação em particular chamou a atenção nesta quinta. Em Jaciara (150 km ao Sul da capital), pelo menos 300 camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) criticam a reforma da previdência, ocupando a Fazenda Entre Rios, sob o slogan 'Quem não se movimenta, não sente as correntes que a prendem', frase referência da militante polonesa Rosa de Luxemburgo, ícone do feminismo comunistas. 

 

Também vários órgãos e instituições no Estado abriram hoje debates como forma de demarcar a luta da mulher e revelar que apesar das mudanças operadas por uma luta sem tréguas, iniciada ainda no século passado, elas ainda vivem sob o jugo de uma sociedade machista. 

 

O mais grave, no entanto, pode ser visto por meio de levantamento recente, realizado pelo portal Globo de Notícias, mostrando que aqui no Estado, no ano passado, foram registrados 48,9 mil boletins de ocorrência contra a violência doméstica, desvelando-se como um dos estados mais perigosos para as mulheres no Brasil. E responsável, sobretudo, pelo maior índice brasileiro - 4,6 a cada 100 mil -, em casos de feminicídio. Com boletins de ocorrências que revelam que somente nos dois primeiros meses de 2018, 18 mulheres foram mortas por motivos relacionados ao gênero, ou seja, morreram por serem mulheres; cinco delas na Grande Cuiabá. Desnudando uma triste realidade, de que temos poucos motivos para se comemorar no Dia Internacional da Mulher e muito para ser debatido, em se tratando dos números elevados de agressões, estupros e mortes.

 

E para não deixar que estes números se tornem apenas estatísticas, a doutora em Educação e professora da Rede Pública de Ensino, Claudia Cristina Carvalho, em conversa com o Site Única News lembra que as lutas por emancipação social não é uma luta recente. Tampouco, se esgota numa unica data, entretanto, relevante enquanto data, pois se tornou um marco que vem assegurando visibilidade politica e social no que diz respeito ao feminismo.

 

(Foto: Assessoria)

claudinha 2.jpg

 

De acordo com a doutora, a luta da mulher vem sendo marcada - como todas as grandes lutas - por avanços e retrocessos em muitas áreas. Mas tendo sempre o mesmo inimigo, o sistema patriarcal, que regula milenarmente as formas como homens e mulheres constituem-se como pessoas [sujeitos]. E isto tanto na ordem estrutural quanto cultural, pois coloca o feminino na condição da subalternidade, desigualdade e exclusão social em relação ao masculino. 'E, isso é percebido na ciência, no direito, na politica, nas relações de trabalho ( mercado), no Estado, nas relações do dia a dia e ainda podendo ser facilmente observada na linguagem que circula nos mídias', ainda enfatiza Claudia Carvalho.

 

Lembrando ainda a doutora e professora da Rede Pública de Educação, que um dos princípios do patriarcado é a violência. E o padrão que melhor o representa é a sigularidade do "heroi", por exemplo, sempre linkado a "guerra", a militarização", a "força bélica", a "agressividade e ainda a dominação. Uma estrutura que realiza com habilidade histórica as representações sociais da masculinidade, em uma clara ligação com a coragem e com a força [dentro do processo mítico do Titã, do semideus].

 

'Sem, a desconstrução do imaginário social da cultura da violência nos discursos e prática cotidianas, no direito, nos saberes e por vezes, praticados pelo próprio Estado, as lutas das mulheres são invisibilizadas e emudecidas', diz Claudia Carvalho. 

 

Ja a deputada estadual emedebista, Janaina Riva, que ao utilizar nesta quinta, sua páginas no Facebook, lembrou que particularmente este ano ela não falaria sobre o empoderamento feminino. Trocando-o pelos elevados números de agressões contra mulheres e sobre a gravidade nos números do feminícídio, em Mato Grosso. Frisando que o Estado lidera o ranking no país, nos números de mortes contra as mulheres, só pelo fato de elas serem mulheres.

 

Em sua postagem, a parlamentar diz que feminicídio é uma palavra nova para uma prática antiga - desde 2015 usada para designar um crime -, que traduz, no entanto, as formas trágicas dado as mulheres, pelos homens, 'que diariamente as espancam, humilham e estrangulam'. 

 

A parlamentar ainda diz que o feminicídio precisa ser debatido pois trata-se de um crime de ódio. E que de acordo com estudo da Organização das Nações Unidas (ONU),  70% de todas as mulheres no mundo já sofreram ou irão sofrer algum tipo de violência em algum momento de suas vidas. 'Essa forma de assassinato não constitui um evento isolado e nem repentino ou inesperado; ao contrário, faz parte de um processo contínuo de violências, cujas raízes misóginas caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta gama de abusos, desde verbais, físicos e sexuais, como o estupro, e diversas formas de mutilação e de barbárie', ainda revelou a deputa ao Site Única News.”

 

(Foto: AL-MT)

janaina riva.jpg

 

E para debater com mais profundidade estes abusos históricos contra a mulher, a deputada emedebista vai reunir em audiência pública no dia 27 de março, no plenário Milton Figueiredo, na Assembleia, representantes das áreas acadêmicas, Segurança Pública e Organizações Não Governamentais, ligadas ao combate da violência contra a mulher, para debater sobre o Feminicídio em Mato Grosso e as alternativas para seu enfrentamento. Pois ainda segundo ela, a intenção é criar uma Câmara Setorial Temática com algumas dessas entidades para debater soluções para a redução deste tipo de crime cometido contra as mulheres, que em Mato Grosso tem crescido assustadoramente.

FAÇA PARTE DE NOSSO GRUPO NO WHATSAPP E RECEBA DIARIAMENTE NOSSAS NOTÍCIAS!

GRUPO 1  -  GRUPO 2  -  GRUPO 3

Comente esta notícia