Christinny dos Santos
Única News
A filha do advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil — Seccional Mato Grosso (OAB-MT) Renato Nery, Lívia Nery, acredita que a execução do pai tenha sido aviso, talvez para a família ou, quem sabe, para a própria sociedade. Segundo ela, o jurista tinha uma rotina bem definida e poderia ter sido morto em local com menos visibilidade. Renato Gomes Nery foi baleado na manhã do dia 05 de julho de 2024, em frente ao seu escritório, localizado na Av. Fenando Corrêa da Costa, em Cuiabá. Ou seja, em plena luz do dia, em uma das avenidas de maior movimento da Capital.
"Meu pai sempre ia nos mesmos horários, nos mesmos lugares. […] E o que a gente acha suspeito é que essa execução, nós acreditamos que foi um aviso. Por quê? Porque a rotina dele era muito certinha", diz Lívia, em entrevista ao RDCast.
Pelo menos um, de sete disparos, atingiu a cabeça do advogado, que chegou a ser socorrido e passar por cirurgia, mas morreu no dia seguinte ao atentado. Desde então, a Polícia Civil já deflagrou duas operações de busca e apreensão contra possíveis envolvidos, mas o caso segue sem solução.
Lívia explica que a rotina do pai incluía aulas de pilates três vezes na semana e também visitava a irmã dele. Ambos os locais eram ermos, com pouco movimento e quase nenhum monitoramento que possibilitasse o registro da ação.
"Existiam outros lugares muito mais fáceis de fazer aquilo. Por exemplo, ele [Renato] ia ao Pilates três vezes na semana, que ficavam três ruas atrás. São ruas desertas. Ele visitava a irmã dele, a minha tia, quase todos os dias da semana, que fica numa rua sem saída do bairro de Jardins Américas. Então, existiam vários locais que não eram monitorados com tantas câmeras quanto a segunda avenida mais movimentada da cidade. Num local extremamente movimentado, porque ali a gente está no meio da avenida Fernando Corrêa da Costa", analisa a empresária.
A filha do advogado conta ainda que, naquele dia, ele agiu como sempre: saiu de casa, tomou café na Padaria América e depois foi trabalhar. Mas, assim que estacionou e desceu do carro, foi executado. Em horário comercial, às 9h da manhã, em uma das duas avenidas mais movimentadas da Capital. Lívia enxerga a decisão do local e horário feita pelo executor como uma advertência.
"Então, a gente acredita que aquilo tudo foi muito estratégico, porque existiam outros pontos para um, eu não sei nem como falar, um executor profissional… muito mais fácil de serem feitos. Mas ali foi um aviso. [Porém] a gente não sabe se foi um aviso para a família, a gente não sabe se foi um aviso para a sociedade", afirmou Lívia.
Isso porque, como já noticiado pelo Única News, em julho de 2024, o delegado de Polícia Civil, Bruno Abreu Magalhães, responsável pela investigação da execução, adiantou à reportagem que a principal linha de investigação do crime já era a disputa de terras. Em novembro, as autoridades confirmaram que a motivação foi um conflito agrário no município de Novo São Joaquim.
Sete meses antes, em dezembro de 2023, outro conflito de terras também foi apontado pela Polícia Civil como a motivação da execução do também advogado Roberto Zampieri, que aconteceu em frente ao seu escritório, no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá.
A família Nery também acredita que o ex-presidente da OAB-MT foi morto por advogar em causas agrárias e que o andamento dos processos em que ele atuava ajudarão na resolução do crime. "Nós acreditamos que o que levou a morte, (4:23) esse tipo de morte do meu pai foram causas agrárias. Meu pai era um advogado extremamente combativo. (4:31) Ele não aceitava nada que fosse fora da justiça, fora das leis", diz Lívia.
"Ele morrendo, outras pessoas vão ter que tomar partido dessas causas, vão ter que prosseguir. Então, o fato da morte dele iria desencadear outras ações com relação a essas coisas, a esses processos de terra. Então, a morte dele, em específico, não significa nada. Precisa ver qual seria o andamento dessas coisas", completa a empresária.
Por fim, Lívia destaca que o pai não tinha inimigos, nem mesmo recebeu ameaças de morte, deixando implícito que o verdadeiro objetivo era silenciá-lo. "É o que a gente acredita. Porque meu pai era uma pessoa que não tinha inimigos, não foi ameaçado, não tinha um carro blindado, por exemplo, não tinha segurança. Tanto é que ele estava saindo do carro na maior tranquilidade do mundo, entrando no escritório", conclui.
Investigações
Dezoito dias antes de ser executado, Nery procurou a OAB e registrou uma denúncia contra Antonio João de Carvalho Junior, colega de profissão e um dos alvos da Operação Office Crime, por um suposto “conluio” envolvendo também outros profissionais. Nesse processo, Renato acusou o colega de se apropriar e negociar uma área de 2.579 hectares, que ele havia recebido como honorários de uma de reintegração de posse de uma terra de 12.413 hectares, localizada no leste do estado.
Nery advogou no caso em 1988 e, desde então, lutava para obter a parte da terra a que tinha direito.
Em 30 de julho deste ano, 24 dias após a morte de Renato, a DHPP cumpriu três mandados de busca e apreensão nas cidades de Guarantã do Norte (708 km de Cuiabá), Cuiabá e Várzea Grande, para colher informações que contribuíram com as investigações. Já em setembro, foi realizada uma perícia complementar, para auxiliar na identificação do pistoleiro que executou o crime.
Além disso, o inquérito sobre a morte do advogado Roberto Zampieri foi compartilhado o delegado Bruno Abreu Magalhães, que investiga a morte de Nery para encontrar possível semelhanças nos casos e indicar se existe, ou não, relação entre os dois. Advogados especialistas em litígio sobre propriedades rurais, os dois foram executados com apenas sete meses de diferença.
Operação
A Operação Office Crime para cumpriu cinco mandados de busca e apreensão contra os advogados: Antonio João de Carvalho Junior, Agnaldo Bezerra Bonfim e Gaylussac Dantas de Araujo; e o casal de empresários: Cesar Jorge Sechi Julinere Goulart Bastos.
Durante as investigações, a Polícia Civil descobriu que um “escritório do crime” foi criado por advogados ligados à disputa judicial para encomendar a execução. Os mandados contra os advogados, que atuavam no mesmo escritório, foram cumpridos em Cuiabá, e contra o casal de empresários em Primavera do Leste.
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