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Quinta-feira, 10 de Outubro de 2019, 11h:08

Bolsonaro convida pessoas a conhecerem a Amazônia

Presidente diz que quer explorar Amazônia de forma sustentável. Terras indígenas na Amazônia têm maior número de queimadas desde 2011.

Por Tahiane Stochero e Carolina Dantas
G1 SP

(Foto: Reprodução/EBC)

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) fez discurso nesta quinta-feira (10), em evento em São Paulo, convidando as pessoas a conhecer a Amazônia. "Conheçam a Amazônia. Vocês não serão queimados, com certeza", afirmou durante a abertura do Fórum de Investimentos Brasil 2019.

"Muitos jornais e televisões mostram não é a realidade. É uma área lindíssima, quase totalmente preservada. Essa terra é patrimônio do Brasil. A Amazônia não é o pulmão do mundo, isso está cientificamente comprovado", disse o presidente.

"Queremos explorar a nossa Amazônia de forma sustentável. Fazer com o que ela tem de bom sirva para nós e para a humanidade. Esse Brasil é simplesmente fenomenal, não é por que eu sou brasileiro."

Em agosto e setembro, as queimadas na Amazônia dominaram o noticiário nacional. O presidente Bolsonaro questionou os dados, chegou a dizer que ONGs podiam estar por trás das queimadas, trocou farpas com o presidente da França, Emmanuel Macron, e afirmou em discurso na Organização das Nações Unidas que a Amazônia está "praticamente intocada". Após pressão internacional, ele autorizou o envio de homens das Forças Armadas para combater o fogo na floresta.

 

Queimadas em setembro

 

Os focos de queimadas na Amazônia caíram no mês de setembro, mas apresentaram alta em outros biomas do país: Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Na Caatinga, o registro é quase o mesmo em relação ao ano passado.

No acumulado do ano, todos os biomas, exceto a Caatinga, registram alta no número de focos de queimadas. Os dados são do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Apesar da queda no índice de queimadas, os alertas de desmatamento na floresta amazônica aumentaram em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram 1.173,11 km² sob alerta de 1 a 19 de setembro, número 58,65% maior do que o registrado em todo o mês de setembro do ano passado, quando foram emitidos alertas para 739,4 km², ou ainda 101,5% acima da média registrada em todos os meses de setembro de 2015 a 2018, segundo o Inpe.

A queda no número de focos de queimadas na Floresta Amazônica pode ser explicada em parte pela presença do Exército, após o decreto do presidente Jair Bolsonaro prever o uso das tropas no combate ao fogo, afirma Carlos Nobre, climatologista, membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-pesquisador do Inpe.

"Os criminosos ambientais sabem que é fácil identificar a fumaça de um incêndio", diz Carlos Nobre.

 

Queimadas em terras indígenas

 

O número de focos registrados pelo Inpe em terras indígenas (TIs) nos nove primeiros meses deste ano é o maior desde 2011 e representa o dobro do que foi verificado no ano passado.

Foram 5.242 pontos flagrados pelos satélites em áreas demarcadas na Amazônia neste ano, contra 2.680 contabilizados no mesmo período de 2011 e 2.544 em 2018. O recorde da década ocorreu em 2010, com 7.451 pontos de queimadas em áreas indígenas.

Os dados usados na análise compreendem o período de 1º de janeiro a 30 de setembro. A comparação feita pelo G1 considera os balanços do Inpe a partir de 2009.

O Programa Queimadas do Inpe analisa a situação das TIs considerando os focos dentro e fora do seu território. A terra indígena Karipuna, que tem 153 mil hectares e fica em Rondônia, é a mais ameaçada quando o critério é o número de focos no entorno do limite demarcado.

Nos últimos 10 anos, o povo aparece sete vezes no topo da lista de terras com mais focos detectados em um raio de até 5 quilômetros do território.

No caso dos Karipuna, o fogo encontrado na fronteira é consequência das fazendas que cercam o território. Os produtores desmatam e depois queimam para conseguir manter o pasto para o gado.

Por serem um povo com poucos indivíduos, os cerca de 20 karipunas que vivem na área atacada por madeireiros e grileiros estão sob ameaça de genocídio, de acordo com o Ministério Público Federal.