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Quarta-feira, 22 de Maio de 2019, 14h:25

Qual seria o impacto de um surto populista na Europa?

Eleições para o Parlamento Europeu testam a força de partidos nacionalistas que defendem a reforma da UE.

Por Sandra Cohen
G1

(Foto: Reuters/Fabrizio Bensch)

Europeus decidem a partir desta quinta-feira (23) o rumo que vão dar ao bloco de 28 países: ou bem mantêm o status quo da União Europeia, tal como existe, ou dão uma guinada para a extrema-direita e reformulam suas bases internas, com menos dependência de Bruxelas e mais poder aos governos nacionais. A hora do voto para o Parlamento Europeu é também a de saber se a frente unida de populistas de extrema direita avançará, como preveem as pesquisas, conquistando em torno de 180 dos 751 assentos do Legislativo.

Caso este prognóstico se confirme, será o suficiente para paralisar a já emperrada máquina comunitária. Foi-se o tempo em que os eurocéticos defendiam estar fora da União Europeia. Seus principais expoentes almejam manter-se dentro do bloco para, assim, mudar a sua política interna e adequá-la a uma agenda rígida sobre imigração, terrorismo e comércio.

Num primeiro momento, engatariam uma direção mais conservadora e sem tanta intervenção da UE. Mas esta plataforma é também um saco de gatos, com rixas e interesses distintos e em algumas circunstâncias até inconciliáveis. Reúne Matteo Salvini, vice-premiê da Itália; Marine Le Pen, da Frente Nacional francesa; o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban; o polonês Jaroslaw Kaczynski, do partido Lei e Justiça; e Santiago Abascal, do Vox espanhol, entre líderes de 20 legendas de extrema-direita descritas como populistas no continente.

 

“Os partidos de direita populistas frequentemente se dividem em algum momento em seus estágios iniciais; se Salvini trouxer grupos com ideologias e agendas diferentes em sua aliança, corre o risco de tornar-se disfuncional”, avaliou Sanna Salo, professora de sociologia especializada em populismo europeu na Universidade de Estocolmo ao canal de TV France 24.

Ainda assim, um bom desempenho, com um terço das cadeiras do legislativo europeu, como sugerem as pesquisas, daria a este bloco acesso a lideranças de comissões e relatoria de projetos. Sediado em Estrasburgo, o Parlamento está mais poderoso: aprova a legislação, supervisiona o orçamento da UE e escolhe o presidente da Comissão Europeia, entre outras atribuições.

E há também a sombra da interferência da Rússia transitando neste universo de 400 milhões de eleitores. No fim de semana passado, o governo austríaco implodiu após a divulgação de um vídeo em que o vice-premiê e líder dos ultranacionalistas, Heinz-Christian Strache, prometia contratos públicos à suposta sobrinha de um oligarca russo, em troca de verbas para a campanha eleitoral.

O escândalo vai ao encontro de táticas já detectadas em outras eleições e deixa o alerta de autoridades europeias permanentemente aceso, sob o argumento de que a Rússia usa a desinformação on-line para disseminar a cizânia.

O presidente Vladimir Putin vem cortejando líderes extremistas europeus, num aparente esforço para enfraquecer e fragmentar politicamente o continente. Estas eleições legislativas dirão se a confiança do eleitor europeu na engrenagem comunitária fundamentada há mais de seis décadas está de fato abalada.