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VOLTA AO MUNDO Quinta-feira, 14 de Março de 2019, 15:36 - A | A

14 de Março de 2019, 15h:36 - A | A

VOLTA AO MUNDO / INVESTIGAÇÃO

MP de SP apura se organização criminosa na 'deep web' incitou assassinos a cometerem massacre em Suzano

Kleber Tomaz, Thiago Lavado e Altieres Rohr
G1



O Ministério Público (MP) de São Paulo vai apurar se uma organização criminosa na internet está por trás do massacre em Suzano, ocorrido nesta quarta-feira (13). Outras linhas de investigação também são verificadas.

Dois assassinos mataram uma pessoa numa loja de carros e sete na Escola Estadual Professor Raul Brasil. Eles se mataram em seguida. Outras 11 pessoas ficaram feridas, uma delas em estado grave.

Um promotor do júri e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ambos do Ministério Público, querem saber se Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25, foram incitados ao crime por membros do fórum Dogolachan na "deep web", um segmento da internet que não pode ser encontrado por buscadores como o Google e favorece o surgimento de redes e sites anônimos (entenda o que é "deep web").

“A gente tem notícia de que os assassinos se comunicavam pela 'deep web' com outras pessoas. Isso, portanto, precisa ser investigado para se verificar se há uma organização criminosa atuando por trás da ação que cometeram”, disse nesta quinta-feira (14) ao G1 o chefe do MP, o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio.
O Ministério Público atuará diretamente com ao Polícia Civil, que já investiga o caso e busca saber qual foi a motivação do crime. Se os órgãos apontarem alguém que tenha incitado os assassinos a cometerem o crime, essa pessoa ou grupo de pessoas poderão responder por organização criminosa ou até por participação na chacina.

Informações preliminares da polícia indicam que Guilherme e Luiz premeditaram o crime, planejando ele por mais de um ano, e ainda pretendiam matar mais pessoas do que as 13 vítimas fatais do massacre de Columbine, ocorrido em 1999 nos Estados Unidos.

No massacre de Suzano, os assassinos eram ex-alunos da escola. Um dos mortos era um tio de Guilherme, que foi executado pelo sobrinho.

'Deep web'

Computadores usados pelos dois criminosos foram apreendidos pela polícia. Segundo investigadores, eles acessaram a "deep web" e buscaram informações sobre massacres cometidos em escolas americanas. Além disso, foram recolhidos cadernos com anotações deixados por eles no carro alugado e usado no crime.

“Muito obrigado pelos conselhos e orientações... esperamos não cometer esse ato em vão”, teria escrito um dos assassinos dois dias antes do massacre em Suzano, no fórum Dogolachan na "deep web".

Smanio designou o promotor Rafael Ribeiro do Val e membros do Gaeco para apurarem se alguma organização criminosa colaborou para "eventual cometimento de crimes relacionados a terrorismo doméstico, como apontam os primeiros indícios". O termo terrorismo doméstico é usado para definir atentados cometidos por cidadãos contra o seu próprio povo ou governo.

Crimes cibernéticos

De acordo com Smanio, o Ministério Público irá contar com o assessoramento do Cyber Gaeco para tentar esclarecer quem são as outras pessoas que teriam conversado com Guilherme e Luiz na "deep web".

“É nosso núcleo de crimes cibernéticos. É preciso fazer essa investigação para dar segurança às pessoas, pois ainda não sabemos a motivação do crime e como eles tiveram acesso a armas, por exemplo”, disse o procurador-geral.

Perícias nos computadores usados pelos assassinos poderão informar com quem eles se relacionavam e conversavam. Os dois também frequentavam uma lan house onde jogavam games de tiros.

Guilherme chegou a postar fotos na internet momentos antes do crime. Ele aparece armado e com uma máscara de caveira numa das imagens.

“Tem que fazer perícia nos computadores que fizeram acesso, se estão ligados a outras pessoas, se é um grupo ou não. Não dá para descartar nada disso”, falou Smanio.

Segundo ele, o MP também apura outras linhas de investigação. "A apuração sobre o que aconteceu em Suzano precisa ser a mais completa possível para se ter maior segurança e evitar que isso não se repita”, disse o procurador Smanio. "Há uma comoção social grande para evitar esse tipo de conduta."

Armas

A polícia já sabe que o revólver calibre 38 usado na chacina estava com a numeração raspada, o que indica a possibilidade de ele ter sido obtido com algum outro criminoso. Um machado, uma besta, espécie de arco e flecha, e bombas caseiras também estavam com a dupla.

Um dos amigos dos criminosos foi ouvido pela polícia na noite de quarta e contou que soube da intenção da dupla em fazer o atentado. Só não sabia quando seria.

Os investigadores já ouviram 20 pessoas no total, entre pessoas próximas aos assassinos e vítimas deles.

Dogolachan

O G1 apurou que promotores paulistas estudam a possibilidade de vir a pedir colaboração do Ministério Público em Curitiba para tentar falar com um um dos criadores do Dogolochan, Marcelo Valle Silveira Mello.

Marcelo está preso desde 2018 após ter sido condenado pela Justiça a mais de 40 anos de prisão por associação criminosa, divulgação de imagens de pedofilia, racismo, coação, incitação ao cometimento de crimes e terrorismo. O G1 não conseguiu localizar a defesa de Marcelo para comentar o assunto.

Um delegado especializado em crimes cibernéticos afirmou à reportagem que o Dogolochan ainda existe na "deep web", porque está sendo moderado por outro brasileiro, que foi expulso dos Estados Unidos e estaria morando na Espanha. O especialista pediu para não ter o nome divulgado.

Dependendo do andamento das investigações, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) poderão ser acionados pela Promotoria de São Paulo. "Por enquanto a atribuição da investigação será estadual, porque não tem interesse da União", explicou Smanio.

Perfil dos assassinos

Policiais civis e peritos da Polícia Técnico-Científica foram as casas dos assassinos, que eram amigos de infância e moravam a pouco mais de 1 quilômetro de distância do colégio.

Guilherme foi criado pela avó, que morreu há cerca de três meses. Luiz vivia com os pais, um irmão mais velho e o avô. Ele era jardineiro e trabalhava na Zona Leste de São Paulo.

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