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Terça-feira, 03 de Maio de 2016, 14h:48

Fatores atípicos atingem agronegócio em Mato Grosso e obrigam produtores a se adaptarem

Uma das maiores movimentadoras da economia no Estado, a agricultura foi severamente castigada na safra 2015/2016 com o grande volume de chuva e com a entrega de sementes de baixa qualidade para o agricultor

Aline Almeida

Carro-chefe da economia de Mato Grosso, o agronegócio vive um dos anos mais atípicos. Tanto que a Companha Nacional do Abastecimento, a Conab, confirmou que a produção de grãos 2015/2016 em Mato Grosso deverá recuar cerca de 310 mil toneladas em comparação com o ciclo passado. A projeção é decorrente das perspectivas de retração na soja, no milho 2ª safra e no algodão em caroço. Dois fatores contribuíram muito para este momento impactante no setor. O diretor administrativo e financeiro da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Nelson Piccoli, conta que um deles é o fator climático e o outro é a má qualidade da semente que estão entregando para os produtores. Segundo o diretor, a agricultura no Estado teve muitos problemas com as sementes com pouca germinação e pouco vigor. Piccoli diz que foi o pior ano em termos de qualidade de semente vendida para o produtor.

Quanto ao fator climático, Nelson diz que depende muito da natureza. Quanto a isso não há muito que fazer a não ser o produtor prestar muita atenção nas informações de quando vem a chuva e não se precipitar em plantar se a situação não estiver favorável quanto à umidade do solo. Já em relação às sementes de má qualidade, entidades que representam o setor tomam a frente das ações. “A Famato e a Aprosoja estão conversando com o setor dos sementeiros numa tentativa de eles melhorarem a qualidade conforme regulamentado por lei. Estamos trabalhando com o governo no sentido de alterar a lei para que haja punição ao sementeiro que entregue semente de má qualidade”, confirmou.

Quanto às perspectivas de mercado da safra 2015/2016, Nelson Piccoli ressaltou que o Estado atravessou uma situação um tanto quanto delicada. “Nós tivemos o fator climático muito adverso à cultura da soja e o resultado final em termos de produtividade, então nós tivemos uma redução referente à safra passada. O impacto financeiro dessa redução para o Estado e os municípios não foi tão grande porque teve um aumento do valor da soja na comercialização. A compensação da queda de produtividade para os efeitos de arrecadação de governo estadual e municipal se deu em equilíbrio porque o preço de venda teve um bom valor maior em reais e o aumento de área plantada compensou a produtividade no fechamento do ano”, assegurou.

Piccoli confirma que Mato Grosso produziu menos por hectare, mas com aumento de área plantada houve equilíbrio no volume em que o Estado colheu. Para o produtor, o impacto na agricultura desta safra foi negativo. O diretor revela que houve produtores para os quais o fator climático foi mais acentuado por conta da chuva. Teve produtor, segundo ele, que teve perda de 30 a 40% de produtividade se comparado com o ano anterior. Foram situações pontuais, distribuídas em todo o Estado, principalmente nas regiões Norte e Leste de Mato Grosso.

Um melhor comportamento do agronegócio para a próxima safra dependerá única e exclusivamente do fator climático. Para Nelson Piccoli, será necessário que o Governo Federal injete dinheiro no Plano Safra, para o custo de produção e que o fator climático seja mais favorável do que o deste ano. “O produtor está preparado e vai buscar o melhor plantio para ter o melhor resultado e suprir as perdas deste ano”, disse.

Quanto à crise econômica que o Brasil atravessa, o diretor da Famato diz que o agronegócio tem conseguido se manter estabilizado. Isso porque o mercado vai se adaptando automaticamente. “O impacto maior que nós temos é a insegurança. Não temos segurança jurídica nem de direito à propriedade, nem tampouco a visualização de que o produtor terá os financiamentos no volume necessário e na hora certa”, lamentou Piccoli.

 

Famato

Nelson Piccoli

Famato

Carro chefe da economia

Nelson Piccoli sustenta que a agricultura e o agronegócio, em si, são para a humanidade a essência da vida. “Sem a agricultura não se produz alimentos, sem alimento o ser humano não sobrevive. A agricultura é a base da sobrevivência humana. Para o Estado, os municípios e o Brasil, na questão econômica é a maior concentração de geração de riquezas. Pela ação do homem, ele multiplica a produção e a geração de riquezas. É diferente de outras produções que são finitas como a madeira, a extração de minérios, de ouro”, avaliou.

Quantos aos investimentos na área, Piccoli revela que vêm sendo satisfatórios em parte. Para ele, quando o Governo Federal consegue disponibilizar os recursos necessários na formação para produção de soja, milho, na pecuária, que injeta dinheiro neste setor, ele se torna favorável. Mas se torna desfavorável principalmente em relação às complicações ambientais e trabalhistas. “O modelo ambiental brasileiro inibe a possibilidade de o setor do agronegócio aumentar e melhorar a qualidade de sua propriedade. Outo fator muito impactante é o da lei trabalhista. Do modo como ela foi implantada, se estabelece um modelo completamente diferente na utilização dos nossos colaboradores e está trazendo mais prejuízos do que benefícios tanto para o empregado quanto para o produtor. Enquanto tivermos uma lei trabalhista desta maneira, o campo vai perder oportunidades de crescer na geração de alimentos”, enfatizou.

Nesta vertente de falta de investimentos e incentivos, quem acaba sendo mais lesado é a pequena e média propriedade.  Para o diretor da Famato, a responsabilidade maior do fracasso do pequeno e médio produtor compete aos governos estadual e federal. Piccoli defende que as secretarias deveriam focar numa linha diferente em relação à pequena propriedade. Isso porque este setor tem uma necessidade enorme de assistência técnica e orientação interna dentro da propriedade. Outro fator muito importante, segundo Piccoli, é que como elas produzem em pequena escala deveriam ter do governo um auxílio de assistência técnica de orientação e a formação de cooperativas, além de dar oportunidades para as mesmas industrializarem dentro de sua região e para colocar no mercado produtos de qualidade e rentabilidade. No geral este produtor tem pouca produção, custo de produção alto e não tem rentabilidade nem para se manter dentro da propriedade.

O sonho para a real consolidação do agronegócio, para Nelson Piccoli, está ligado às tantas coisas que precisa melhorar, necessidade de modelo de seguro para o agronegócio, além do seguro de rentabilidade, mudança na lei trabalhista, melhor agilidade e melhoria no atendimento às questões ambientais e toda adequação ao Código Florestal. “Outra questão importante é o fator logístico porque, além de reduzir o custo de produção e melhorar na hora da venda, o fator logístico abre as portas e dá possibilidade que a agroindustrialização chegue ao nosso Estado. A melhoria da logística vai atrair mais indústrias e, melhorando a economia, vai trazer benefícios à sociedade como um todo. Para os cofres do governo gerará um volume grande de emprego e agregação de valor muito grande ao que o setor do agro produz”, disse o diretor.

Números – Boletim do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) de 8 de abril de 2016 aponta que em relação à safra de 2015/2016, a estimativa por área plantada por hectare alcance 9.203.780.  Quanto à estimativa de produtividade – quantas sacas serão colhidas por hectare –, a estimativa é de 51,62. Já a estimativa de produção no Estado, é de 28.505.014 toneladas.

Para o milho, a estimativa de área em hectares na safra 2015/2016 é de 3.486.042. A produtividade em sacas colhidas por hectare será de 95,5. A estimativa de produção em todo o Estado é de 19.970.060 toneladas.

O algodão em pluma na safra de 2015/2016 tem estimativa de produção em toneladas de 985.743. Em arroba por hectare, a safra alcança 109.