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Quarta-feira, 13 de Março de 2019, 13h:58

Absorva o impacto da notícia e aprenda a viver com ela

Será preciso pensar num novo conceito de “normalidade”, e isso envolve um luto, a perda de uma condição anterior sem essa preocupação

Por Mariza Tavares
Rio de Janeiro

Não adianta minimizar a situação. Receber a notícia sobre ser portador ou portadora de uma doença crônica significa, em português claro, que essa é uma condição que veio para ficar. Estima-se que quase metade da população brasileira tenha uma doença crônica. Há quem seja diagnosticado cedo: por exemplo, a asma detectada na infância, que, devidamente controlada, vai permitir que a pessoa leve uma vida normal. No entanto, conforme a idade avança, a coisa muda de figura, e os três problemas mais frequentes para os idosos são hipertensão, artrite e diabetes.

Às vezes, o diagnóstico também demora: são exames de sangue e de imagem e até biopsias, aumentando o estresse. Posso falar de cadeira, porque fui diagnosticada com tireoidite de Hashimoto antes dos 50. Num primeiro momento, é difícil ter a dimensão das alterações que ocorrerão em sua vida. Na verdade, essa é uma zona de fog entre médico e paciente, na qual parece que um se perde do outro. Afinal, além da medicação para controlar a doença, o que mais deverá ser feito? Como lidar com os efeitos colaterais da medicação? Que impacto haverá nos campos pessoal e profissional? Qual será o plano de voo daqui para a frente?

(Foto: https://commons.wikimedia.org)

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Doença crônica: estima-se que quase metade da população brasileira conviva com esse tipo de enfermidade.

 

No consultório, pouco se discute sobre a parte mental, embora a relação entre doenças crônicas e depressão seja uma realidade, como já foi demonstrado em estudo da Organização Mundial da Saúde. O relacionamento com amigos e parentes também pode mudar. Você poderá passar a ter restrições de dieta, ser proibido de beber álcool, e, dependendo da enfermidade, enfrentará limitações físicas. Há ainda a possibilidade de o trabalho ser impactado, planos serem adiados ou descartados – mesmo que o caso não seja grave, terá que trabalhar um novo conceito de “normalidade”, e isso envolve um luto, a perda de uma condição anterior na qual essa preocupação não existia. Há uma boa chance de que vá precisar de algum tipo de apoio psicológico, e não apenas de um cardiologista ou endocrinologista.

 

Você terá que se “educar” no sentido de se adaptar aos novos parâmetros de sua vida. O que inclui educar quem está ao seu redor. Não caia na armadilha de guardar para si o peso de administrar de uma doença crônica, nem a deixe restrita ao consultório médico. Ao agir assim, escondendo o que tem, aumenta o risco de descumprir as recomendações médicas e de surgirem complicações. Nos EUA, o Chronic Disease Self-Management Education é um programa cujo objetivo é educar o paciente de forma que ele aprenda a controlar a enfermidade, tanto que o lema do serviço é: “aprenda mais e sinta-se melhor”. O treinamento é de duas horas e meia por semana, durante seis semanas, e inclui sessões sobre como lidar com os sintomas e sentimentos negativos como frustração, cansaço e dor; exercícios apropriados para ter mais resistência; orientação sobre o uso correto dos medicamentos; comunicação eficiente com a família, os amigos e profissionais de saúde; controle do estresse e da depressão. A gente merecia algo assim.