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Quarta-feira, 11 de Julho de 2018, 18h:02

Bebê índia enterrada viva é levada de avião para abrigo em Canarana

Da Redação

(Foto: Abelha Táxi Aéreo)

bebe indigena

 

A bebê índia enterrada viva pela família em Canarana (a 838 km de Cuiabá) deixou o hospital, nesta quarta-feira (10), e foi levada de avião para um abrigo do município. Analu Paluni Trumai ficou 33 dias internada na UTI Neonatal da Santa Casa de Misericórdia em Cuiabá e teve alta na segunda-feira (9).

 

Segundo informações da diretoria do hospital, no voo de volta ao município, a bebê foi acompanhada por representantes pelo Conselho Tutelar e Casa de Saúde Indígena (Casai) de Canarana, conforme determinação judicial. 

 

Na terça-feira (10), o órgão havia solicitado à Justiça que a recém-nascida fosse levada para um abrigo. O pedido foi acatado pelo juiz Darwin de Souza Pontes, da 1ª Vara Criminal e Cível de Canarana.

 

Conforme informações, o pai, que não teve a identidade divulgada, e a mãe da Analu, Maialla Paluni Kamayaura Trumai, já foram ouvidos pela polícia e manifestaram interesse em ficar com a criança.

 

Analu foi enterrada viva no dia 5 de junho pela bisavó Kutsamin Kamayura de 55 anos, com ajuda da avó Tapoalu Kamayura, de 33 anos, em Canarana, logo após seu nascimento. Ambas ficaram presas sob a custódia da Funai, após prestarem depoimento à Polícia Civil.

 

Para o procurador de Justiça de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente Paulo Roberto Jorge do Prado, a notícia da alta da bebê motiva o Ministério Público a continuar nessa caminhada que demonstra a união de todas as instituições na luta pela vida.

 

“Temos que agradecer o empenho das Polícias Civil e Militar, Poder Judiciário, Conselho Tutelar, equipe médica de Canarana e da Santa Casa de Cuiabá e do total apoio do Ministério Público Federal que disponibilizou os antropólogos para realizarem o estudo”, destacou. 

 

O caso

 

Após ser inicialmente internada no Hospital Regional de Água Boa (a 736 km de Cuiabá), foi transferida às pressas para a capital, por meio de UTI aérea, com helicóptero do governo de Mato Grosso. No dia 5 de junho, quando foi retirada ainda com vida depois de 7 horas debaixo da terra, o quadro clínico da bebê, de acordo com os médicos do município, era gravíssimo. No dia seguinte, quando foi transferida para a Santa Casa já foi diagnosticada com insuficiência renal.

 

Dois dias mais tarde passou por uma cirurgia para passagem de cateter, para fazer diálise peritoneal e começou a fazer tratamento de diálise, já que os rins não estariam funcionando. Somente nove dias mais tarde, a bebê começou a reagir, ainda que vagarosamente, assim com estado de gravidade. Mas podendo seu quadro ser declarado estável.

 

A mãe da recém-nascida, Maialla, de 15 anos, deu à luz por volta de 12h. Depois de cortar o cordão umbilical, a bisavó enrolou a recém-nascida em um pano e a enterrou no quintal. A bisavó foi presa no dia 6 de junho.

 

Vizinhos denunciaram o fato à polícia, que conseguiu resgatar a menina e encaminhá-la para atendimento médico. Aos policiais, a bisavó confessou que teria enterrada a criança porque ela era filha de uma adolescente de 15 anos e o pai estaria com outra mulher. E é tradição da tribo a qual pertencem não aceitar filhos de mães solteiras. A família é da etnia de uma das 19 que vivem no Parque Nacional do Xingu.

 

A avó da bebê chegou a declarar aos policias que ofereceu chás abortivos à filha adolescente para que a gravidez não prosseguisse, porém não houve efeito e ela com a bisavó da bebê decidiram pelo enterro.

 

Em algumas informações contraditórias, a família indígena chegou a relatar inicialmente que havia enrolada a bebê em um pano e a enterrado, acreditando que estava morta. Pois a adolescente, mãe da bebê, supostamente deu a luz no banheiro e não teria conseguido segura-la, assim ela caiu no chão. Com isso, a mãe acreditou que a criança teria morrido.

 

A bisavó, a índia Kutsamin Kamayura, ficou presa por alguns dias. Após investigações da Polícia Civil, a avó Tapoalu também foi presa no dia 8 de junho, suspeita de participar da ação criminosa. No último dia 11 de junho, o pedido da Funai de revogação da prisão preventiva de Kutsamin foi negado pelo juiz Darwin de Souza Pontes, da 1ª Vara Criminal e Cível do município, sendo o mesmo responsável que decretou a prisão da indígena.

  

O juiz também negou a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares. No entanto, autorizou a prisão especial a Kutsamin, por ser índia. Ela ficou presa em uma unidade da Fundação Nacional do índio (Funai), em Gaúcha do Norte (a 595 km de Cuiabá).