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Sexta-feira, 08 de Dezembro de 2017, 15h:53

Alergia à proteína do leite de vaca: saiba tudo sobre a APLV

Por Rosane Bleivas Bergwerk

leite

 

A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma resposta do sistema de defesa do corpo (resposta imunológica específica) que acontece após a exposição ao leite de vaca. O corpo interpreta que a proteína do leite de vaca é algo "estranho", e dessa forma reage contra a mesma. Pode acontecer através do leite materno (já que a mãe ingere leite de vaca e passa para o bebe), da ingestão do leite de vaca ou do contato do leite com a pele. Essa reação depende da susceptibilidade individual.

A APLV aparece geralmente na infância, muitas vezes no primeiro mês de vida, mas pode acontecer em crianças maiores ou adultos. Geralmente ela tende a melhorar espontaneamente (ou seja, entrar em remissão) em 45 a 50% dos casos até o primeiro ano de idade e em 85% dos casos até 3 anos de idade. Porém, estudos mais recentes descrevem resolução em uma pequena porcentagem na idade escolar, às vezes na adolescência, comprometendo a qualidade de vida dos pacientes.

A cada ano verifica-se que a tolerância (quando o paciente não apresenta mais sintomas decorrentes da ingestão ao leite de vaca) ao leite de vaca torna-se mais tardia. Altos níveis de IgE específica e coexistência de APLV com asma e rinite são fatores preditivos para persistência da doença. 35% dos pacientes com dermatite atópica podem apresentar alergia alimentar, e o leite tem um destaque.

 

APLV ou intolerância à lactose?

Não são processos diferentes. A intolerância à lactose é uma manifestação de hipersensibilidade alimentar não alérgica, não há envolvimento de mecanismo imunológico. É uma reação adversa causada por características fisiológicas do indivíduo (depende da susceptibilidade individual), como por exemplo alterações metabólicas.

Nesse caso haverá uma dificuldade do organismo em digerir e absorver um tipo de açúcar do leite que é a lactose, devido a diminuição ou ausência da enzima que degrada a lactose em monossacarídeos para absorção, chamada lactase. Quando isso acontece pode haver um quadro de diarreia, distensão e dores abdominais. A quantidade de leite ingerido está relacionada com os sintomas. Pouca quantidade de leite pode não demonstrar sintomas.

Sintomas da alergia à proteína do leite de vaca

Na APLV há sintomas que aparecem imediatamente após a ingestão do leite, ou seja, no máximo até 2 horas da ingestão do mesmo. Nesse mecanismo existe a participação de um anticorpo chamado IgE, por esse motivo essas reações são denominadas "IgE mediadas". Podem envolver a pele, o aparelho gastrointestinal e o sistema respiratório.

Sintomas da pele envolvem:

Já os sintomas digestivos da APLV são:

Já os sintomas respiratórios isoladamente são raros. Geralmente vem acompanhados de sintomas cutâneos ou gastrintestinais. Podem manifestar-se com coriza, coceira nasal, espirros e entupimento nasal associados com lacrimejamento, vermelhidão e coceira nos olhos, tosse, falta de ar, chiado no peito e edema de laringe. As manifestações mais graves podem fazer parte de um quadro de anafilaxia.

Manifestações como otites de repetição não estão relacionadas com APLV, de acordo com os estudos científicos.

Pode ocorrer também a anafilaxia, uma reação de hipersensibilidade grave, generalizada, que acomete vários órgãos podendo levar ao óbito. Pode acontecer envolvimento de 2 ou mais dos seguintes quadros:

Sintomas tardios da alergia ao leite de vaca

Na APLV há sintomas que aparecem horas a dias após a ingestão do leite de vaca, neste caso não há envolvimento do anticorpo IgE, por isso são denominadas "não mediadas por IgE". As manifestações envolvem principalmente o trato gastrintestinal. Um exemplo de enfermidade não mediada por IgE é a proctocolite. É um quadro que aparece entre a segunda e oitava semanas de vida, sem comprometimento do estado nutricional, em que as fezes aparecem com sangue vivo e muco. Há também a síndrome de heiner e a FPIES (sigla inglesa para enteropatia induzida por proteína do leite de vaca).

Às vezes ocorre o envolvimento do mecanismo mediado por IgE e não mediado por IgE, nesse caso dizemos que se trata de um mecanismo misto. Exemplos: dermatite atópica, esofagite eosinofílica. Nessas doenças pode acontecer a alergia a proteína do leite de vaca.

Como a alergia ao leite de vaca é tratada?

O tratamento da APLV é realizado através da exclusão do leite de vaca da dieta do paciente. A criança deve substitui-lo por outro produto, que de acordo com a orientação do especialista, poderá ser proteína isolada de soja, formula extensamente hidrolisada ou formula de aminoácidos.

No estado de São Paulo, em 2007, foi promulgada uma lei que passou a atender à dispensação de formula extensamente hidrolisada, de aminoácidos ou de proteína isolada de soja para pacientes com APLV.

Não poderá haver ingestão dos seguintes itens:

É muito importante conferir os rótulos de produtos em geral como bolachas, chocolates, pudins, doces e margarina. Atenção para os rótulos aonde constam: soro de leite, caseína, caseinato, lactoalbumina, fermento lácteo, formula láctea. Estes não podem ser consumidos. A manipulação de utensílios deve ser vigiada para que não haja contaminação. Alimentos que constam com ?traços de leite? não devem ser consumidos.

Para a mãe que está amamentando a orientação é continuar sempre com leite materno exclusivo, mas ela deve excluir de sua dieta leite e derivados, assim como produtos em que constam traços de leite. Leite e queijo de cabra, ovelha e búfala não podem ser consumidos. Deve-se ter cuidado com a presença de leite em sabonetes, cosméticos e medicamentos.

Dietas maternas com restrições especificas não são recomendadas para evitar a APLV. Estimular o parto normal é importante, o parto cesárea associa-se ao maior risco de APLV nos primeiros anos de vida, contraindicar o tabagismo, estimular o aleitamento materno, orientar uma alimentação equilibrada e saudável, evitar o uso indiscriminado de antiácidos e antibióticos são fatores que podem reduzir o risco de APLV. A introdução de alimentos sólidos para criança com APLV não deve ser retardada. Recentemente os estudos científicos demonstraram que as crianças com APLV, que toleram alimentos processados (bolos, muffins e panquecas) que contenham leite constituem um fenótipo, podendo adquirir tolerância mais rapidamente.