Por Suelen Alencar/ Única News

A preocupação com o jogo “Desafio da baleia azul” ou “Blue Whale” tem gerado muitas informações na internet. Conteúdo que dependendo da forma como forem divulgados gera um processo inverso, que pode servir para propagar o uso e estimular a participação de jovens no jogo que desafia ações perigosas. O site Única News conversou com a psicóloga Cláudia F. Pezzini, formada pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, que esclareceu de forma prática o que o jogo representa para os jovens e adolescentes e pontou que não se tratar de 'demonizar' um culpado.
"A primeira coisa importante a se lembrar é que não se trata de 'demonizar’ a tecnologia e nem apontar a responsabilidade para os pais. E sempre bom lembrar que é um reflexo da nossa sociedade com vários responsáveis. Não se trata de culpar pais ou adolescentes mas compreender um fenômeno de falta de tempo, falta de autoridade e principalmente falta de referenciais que esses jovens possam se identificar e confiar", disse Claudia.
O jogo que iniciou na Russia em 2015 e 2016, chega até os jovens por meio de grupos fechado no Facebook. As informações são de que no jogo os jovens recebem um desafio provar que realmente quer entrar no grupo, após cumprir a tarefa começa a receber as sequencias de desafios até finalizar na 50ª tarefa final. Claudia que também possui formação em saúde pública faz um paralelo sobre a busca dos jovens em ‘aceitação’.
Sobre essa necessidade, Pezzini diz que é um 'sistema social' que cada tempo da sociedade passa por isso. Segundo ela, "hoje há uma confusão entra a infância e adolescência, o problema não é a tecnologia e sim o uso que se faz dela. Não dá para demonizar, o que dá para fazer é pontuar o uso indiscriminado, sem limite dessas crianças e adolescentes”, pontou.
O desafio proposto aos jovens vai desde a automutilação, assistir filme de terror até acordar as 4:20 da manhã e subir em telhados e altura perigosas. Uma das questões levantadas pela psicóloga é que esses desafios e jogo online acaba assumindo o papel de referência.
"Alguns jovens precisam se sentir aceitos e acabam procurando os seus ídolos, a autoridade que lhe faltam. Não quer dizer que seja culpa dos pais, mas que eles querem pertencer a um grupo de alguma forma. A pergunta é 'quem está sendo autoridade para aquele adolescente?'. Muitas vezes isso vem desses jogos, e todos estão vulneráveis, não quer dizer também que todos os jovens estão depressivos. É preciso fazer com cuidado esses apontamentos", avaliou.
Claudia explicou ainda que o estudo de ‘psicologia de massa’ pesquisado por Sigismund Schlomo Freud, pontua sobre essa padronização da referência e de como o indivíduo precisa e busca o referencial. Sobre o jogo "desafio da Baleia Azul", Pezzini ainda avalia que os métodos usados nos jogos são fortes, como persuasão, ameaças e autoridade.
"A vida moderna traz esses medos, o jogo impõe ao adolescente uma autoridade absurda que muitas vezes esse jovem desconhece e acaba por associar ali uma referência e sente que pertence a aquela realidade".
A psicóloga ainda reforça que jogos como esse é “um reflexo da nossa sociedade com vários responsáveis. Não se trata de culpar pais ou adolescentes mas compreender um fenômeno de falta de tempo, falta de autoridade e principalmente falta de referenciais que esses jovens possam se identificar e confiar”, avalia Pezzini.
Casos em Mato Grosso
Em Vila Rica, inteiror de Mato Grosso, uma mãe que estava com a filha desaperecida encontrou dias depois o corpo da jovem de 16 anos na lagoa central da cidade. Segundo o boletim de ocorrência, Maria de Fatima tinha começado a fazer cortes nos braços há dois meses atrás e deixou duas cartas, nas quais explicava os processos de um jogo na internet, denomidado "Baleia Azul". Consta ainda que outras pessoas também tenha jogado o desafio.
Claudia ainda ressalta que em casos como esse, o senso comum constuma estabelecer um culpado único,mas a análise não pode ser rasa.
"É importante pensar numa sociedade com valores morais relativizados e função de lei e limite fragilizados: Como um jogo que usa de uma referência tão autoritária tem envolvido jovens e os feito 'obedecer' regras tão absurdas enquanto os pais, escola e autoridades não tem nem o perto o mesmo exito".

Desafio fatal
Composto por mais de 50 desafios, o jogo consiste na resolução deles, que depois devem ser atestados por “curadores” dentro de grupos secretos nas redes sociais. O fato é que partes desses desafios podem causar severos danos físicos e mentais. Sobre a dominação desses desafios, a psicóloga fala sobre a busca por referência e tentativa incessante do ser humano "querer ser acolhido por um grupo".
"Freud em ' Psicologia das massas' já alertava para a função do líder como primordial para o ser humano e a formação de grupos com os quais nos sentimos acolhidos e aceitos. Contudo, já alertava para o domínio negativo que esse líder pode exercer no grupo e dominar a ponto de fazer com que indivíduos se anulem em nome de seguir regras e agradar esse líder. Portanto, a necessidade de um grupo e de autoridade é inerente ao ser humano que vive em sociedade. O que podemos pensar que principalmente num período complexo como a adolescência esses jovens estão buscando uma paternidade que os de limites, regras claras, reconhecimento e identificação. Nesse caso, usado de maneira destrutiva e abusiva", analisa Pezzini.
O tenente-coronel do 10º Batalhão da Polícia Militar de Vila Rica, Joel Outo disse ao site Única News na terça-feira (18), que uma jovem é da cidade de Santa Terezinha a cerca de 100km de Vila Rica e solicitou ajuda para sair do grupo. O oficialconfirmou também que os meios usados pelos chamados "curadores" é psicológicos baseado na autoridade e no medo.
"O que se percebe é que no facebook muitas meninas estão participando. Por isso o ciclo de palestra é importante para evitar novas tragédia. Pode ser uma medida drástica, mas a saiada agora é dificultar o acesso desses jovens a um tempo integral na internet. Eles usam de meios psicológicos com esses adolescentes", aponta o tenente.
Para Claudia, "Eles usam o mecanismo de dominação e sugestão que é próprio de uma autoridade abusiva mas que encontramos em muitos outros lugares. Isso anula o ser humano e o domina a ponto de anular seus desejos e subjetividade. No fundo é um mecanismo que todos nós temos: formação de massas, identificação com um ideal maior e necessidade de sermos liderados. O idealé saber que limites é fundamental ao ser humano".
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